O
famoso Credo Apostólico traz em seu terceiro artigo as seguintes palavras sobre
o Cristo ressurreto: “...subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso”. Esta declaração é uma síntese das verdades bíblicas sobre
ascensão e exaltação de Cristo.
Embora
o Credo apostólico não fora propriamente elaborado pelos apóstolos, ela é uma
declaração da igreja pós-apostólica na tentativa de confessar publicamente as
verdades bíblicas ensinadas pelos apóstolos, as quais eles piamente criam (por
isso o nome Credo Apostólico). O presente artigo procura fazer uma abordagem do
significado e a vital importância da ascensão e exaltação de Cristo para a
igreja e o cosmo.
1.
O
Significado da Ascensão de Cristo
O termo “está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso”, deve ser
entendida como uma figura de linguagem. Ela comunica a exaltação que Cristo
recebeu de seu Pai para reinar sobre todas as coisas em seu nome (Fp 2.9-11; Ef
1.20-23; 1 Co 15.27), bem como expressa sua função definida como Rei sobre a
nova criação que começou com a sua vinda (Mt 3.2) e mostrou-se triunfante em
sua ressurreição (Mt 28.18). Assim, o ato de assentar-se a direita de Deus Pai, nas palavras de Calvino, “se trata não
do posicionamento do corpo, mas da majestade de senhorio, de sorte que estar
assentado outra coisa não é senão presidir sobre o tribunal celeste”. [1]
Agora, é necessário entender que
tanto a ascensão de Cristo como o ato de assentar-se a direita de Deus Pai
mostram ter Cristo não apenas o governo sobre a sua igreja (reino espiritual),
mas sobre a toda a sua criação (reino cósmico). O reino de Deus sobre o cosmo,
a qual fora uma vez “abalada” pela entrada do pecado, (primeiro na criação
angelical, depois na criação humana, afetando o cosmo inteiro) agora com a
morte, ressurreição e ascensão de Cristo é redimida por Cristo. Paulo disse que
em Cristo Deus nos revelou “o mistério da sua vontade, segundo o beneplácito
que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude
dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef 1.9-10).
Portanto, a exaltação de Cristo declara ele como o Rei do Universo (At 2.36).
2.
A
Relevância da Ascensão de Cristo
Embora já pudemos ver a glória de Cristo ao
ressurgir dos mortos, ao subir ao céu ele foi verdadeiramente exaltado ao seu
reino (Sl 110). Pelo que sua ascensão era necessária para que verdadeiramente
reinasse sobre todas as coisas. Paulo apresenta que importava “ter ele subido
aos céus para que preenchesse todas as coisas” (Ef 4.10).
Precisamos
entender que Cristo “retirou-se de nós para que sua retirada nos fosse mais
benéfica do que esta presença que, por quanto tempo andou na terra, estava
contida no desprezível habitáculo da carne”. [2] De fato, o próprio Senhor Jesus nos afirmou
da importância da sua ascensão aos céus, retirando-se de nós por breve tempo,
isto é, de modo físico. Sua retirada dentre nós era necessária a fim de: 1) ir
nos preparar lugar (Jo 14.1-3), 2); 2) enviar o Espírito sobre nós, o amado
Consolador/Auxiliador (16.7; 14.16-17); e 3) ser o nosso representante junto ao
Pai (Jo 16.23-27).
A
retirada de Jesus dentre nós certamente não significa que ele tenha falhado na
sua promessa de estar conosco até ao fim dos séculos. Devemos nos lembrar de
que Cristo é tanto verdadeiro homem como verdadeiro Deus. O Catecismo de
Heideberg, respondendo a essa questão diz: “Segundo a sua natureza humana, não
está agora na Terra; mas segundo a sua divindade, majestade, graça e Espírito,
jamais se afasta de nós”. [3]
3. Os
Três Ofícios de Cristo em sua ascensão e exaltação
Cristo em sua ascensão e
assentar-se a direita de Deus Pai cumpre de modo pleno com os três ofícios de
sua vocação: Profeta, Sacerdote e Rei.
Como profeta, podemos identificar
o comprimento de todas as profecias registradas na Bíblia sobre aquilo que na
teologia é chamado de “O Cordão Dourado”: Reino, Pacto e Mediador. Cristo
cumpriu em sua vida, morte e ascensão as promessas da instalação do reino
cósmico de Deus (Sl 110; Mt 4.17; 5.17; 28.18-20), da aliança deste reino feita
por Deus Pai (Sl 2; Mt 17.5; Hb 1.1-14; Hb 8; Hb 10), mediante Cristo, o Deus
Filho, para com os homens (1 Ts 1.10; 1 Tm 2.5).
Como Sacerdote, “Cristo faz a sua
intercessão apresentando-se em nossa natureza, continuamente, perante o Pai, no
céu (Hb 9.12,24), pelo mérito da sua obediência e sacrifício cumpridos na terra
(Hb 1.3), declarando que a sua vontade
seja aplicado a todos os crentes (Jo
3.16; 17.9,20,24); respondendo a todas as acusações contra eles (Rm 8.33-34);
adquirindo-lhes paz de consciência, não obstante as faltas diárias (Rm 5.1-2; 1
Jo 2.1-2), dando-lhes acesso com confiança ao trono da graça (Hb 4.16) e
assegurando a aceitação da pessoa (Ef 1.6) e do serviço deles (1 Pe 2.5)”. [4]
Como Rei, Cristo chama “do mundo um povo para si (Is 55.5; Gn 49.10), dando-lhe oficiais (1 Co 12.28), leis (Jo 15.14) e disciplinas, para visivelmente o governar (Mt 18.17, 18); dando a graça salvadora aos eleitos (At 5.31); recompensando a obediência deles (Ap 22.12) e corrigindo-os por causa dos seus pecados (Ap 3.19); preservando-os dos e sustentando-os em todas as suas tentações e sofrimentos (Rm 8.337-39); restringindo e vencendo todos os seus inimigos (1 Co 15.25); poderosamente, dirigindo todas as coisas para a sua própria glória (Rm 14.11) e para o bem do seu povo (Rm 8.28), e também castigando os que não conhecem a Deus nem obedecem ao evangelho (2 Ts 1.8; Sl 2.9)". [5]
4.
Os
Benefícios da Ascensão de Cristo para sua igreja
Seria
tolo se não considerarmos os benefícios que a nossa fé obtém da ascensão de
Cristo, pois a ascensão de Cristo beneficia grandemente sua igreja. O Catecismo
de Heidelberg, em resposta à pergunta “que importância tem para nós a ascensão
de Cristo?” [6], diz: 1) Ele é, no céu, nosso
Advogado junto ao Pai (Rm 8.34; 1 Jo 2.1); 2) Em Cristo temos nossa carne no céu
como garantia segura de que ele, como nosso Cabeça, também nos levará para si
como seus membros” (Jo 14.2-3; Ef 2.6); 3) Ele nos envia seu Espírito como
garantia. Pelo poder do Espírito, buscamos as coisas que são do alto, onde
Cristo está sentado à direita de Deus, e não nas coisas que são da Terra” (Jo
14.16; Jo 16.7; At 2.23; 2 Co 1.22; 2 Co 5.5; Fp 3.20; Cl 3.1) .
Conclusão
Assim,
a ascensão de Cristo e o ato de assentar-se a direita do Pai era necessário
para manifestar-se no céu como Cabeça de sua igreja e para governar sobre todas
as coisas em nome do Pai (Ef 1.20-23; Cl 1.18; Mt 28.18; Jo 5.22; Fp 2.9-11),
de onde, por seu Espírito Santo, ele derrama sobre nós os dons celestiais (Ef
4.8-12) e nos defende e protege por seu poder contra nossos inimigos.
Por: Kennedy
Bunga
NOTAS:
[1] - CALVINO,
[2] - Ibid., p. 273
[3] - Catecismo de Heideberg, Perg. 47
[4] - Catecismo Maior de Westminster, Perg. 55
[5] - Ibid., Perg. 45
[6] - Catecismo de Heideberg, Perg. 49