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quarta-feira, 22 de julho de 2020

O CRISTÃO E O DESEMPREGO





O mundo está cada vez mais dinâmico e, o mercado de trabalho mais exigente. As empresas cada vez mais têm apostado no capital humano a fim de aumentarem as suas produtividades. Por outro lado, a oportunidade de emprego está cada vez mais difícil, e o que se espera, de todo candidato que busca alguma vaga, é que seja competente. No entanto, não são poucos os cristãos que negligenciam a formação acadêmica e profissional sob pretexto de devoção a Deus; vivem orando e desejando posições mesmo não possuindo credenciais para tal – isso também é tentar a Deus. Não são poucas as denominações religiosas que promovem ideologias que promovem a busca pelo sucesso, sem um dia se ter investido para tal. Muitos crentes que assim procedem, aprendem a lidar com as consequências mais lá para frente, e outros, frustrados mesmo.
Os que assim procedem, sem perceber, colocam em causa a ideia de cristianismo na vida daqueles que não conhecem o evangelho. Como resultado, têm que lidar com o não progresso da vida social, acadêmica e profissional. E quando a idade avança, mais críticas tem de suportar, principalmente se, ainda estiver debaixo do teto dos pais, sendo desdenhado pelos familiares por se encontrarem na condição de desempregados, enquanto que os pais esperam que o mesmo contribua nas despesas de casa. E não é de admirar que assim sejam julgados e, nem ousemos pensar que esteja a sofrer pelo evangelho.
Precisamos compreender que ser cristão não é sinónimo de desleixo ou omissão dos deveres sociais. Lemos sobre os puritanos, como eles conciliavam as actividades sociais com as espirituais. Precisamos imitá-los também nesse quesito. Não basta orarmos. Há um lema muito interessante entre os reformados que diz: Orar e trabalhar. “[…] Devemos orar sim, devemos entregar todas as nossas petições sim a Deus, mas não basta orar somente…” (Pr. Paulo Junior – sermão o cristão e a vida profissional).
Existem ímpios esforçados, que estudam e trabalham para valer; não se espera menos do cristão. Como pois terão ousadia de ministrar o evangelho aos colegas de escola, se não são exemplos de bons estudantes na turma? Como teremos bons políticos, professores, médicos, jornalistas, enfermeiros e outros profissionais sabidos na igreja e servindo a sociedade para a honra e glória de nosso Deus, se negligenciarmos a formação? Em tudo dá-te por exemplo, cristão. Com o mercado de trabalho sofrendo mutação, não devemos esperar sermos aceites se não formos dedicados. Não é somente ser pastor ou exercer algum ofício na igreja que se serve a Deus. Ser trabalhador exemplar e cumpridor dos deveres sociais, também é servir a Deus
No entanto, há crentes que, mesmo sendo esforçado, por conta desta ou daquela situação, têm que aprender a lidar com pressões familiares e, como se não bastasse, também da sociedade, por causa do desemprego, o que muitas vezes desencadeia em sentimentos melancólicos que podem levar a depressão, principalmente quando se esforçam o máximo, mas não prosperam e, isso é de facto frustrante, porém, mas frustrante ainda, quando não contemplamos tudo na cosmovisão bíblica.
Lembro há alguns anos, eu e um amigo, isolados no templo, conversávamos sobre as nossas aflições e condição de desemprego; enquanto falávamos, eu disse para nós mesmo: “imagino Deus a partir do céu, olhando-nos como dois loucos, porque ele sabe o que cada um de nós será daqui a alguns anos”. E isto consolou muito o meu amigo que o tenho por grande estima. Se cremos na Soberania e Sabedoria de Deus, devemos, como disse o apóstolo, lançar sobre ele toda a nossa ansiedade. Por que será? Ele mesmo apresenta a razão, “porque ele tem cuidado de vós.” (1 Pe 5:7).
O facto de existirem pessoas não crentes prosperarem, deve servir-nos de lição e motivação para investirmos no nosso capital humano. O alvo não deve ser a riqueza, mas Deus ser glorificado em nossa vida. Mas enquanto desempregados, se não somos esforçados, temos a resposta da nossa condição, se somos, pensemos como espirituais que, se amamos a Deus, devemos considerar que todas as coisas cooperam verdadeiramente para o nosso bem. (Rm 8:28). Isso não pressupõe apatia e conformismo com a situação. Se puderes estudar, estude, dê o máximo de si; se ainda não conseguiu emprego, continue orando e procurando e, se trabalha, seja esforçado. Glorifique a Deus na posição em que te encontras. Contudo, confiando em Deus, faça tudo que puderes, até Deus manifestar a sua soberana providência; continue esforçando-se, que o Senhor concederá graça segundo a sua vontade. Mas, não permita que nada, comprometa o teu relacionamento com Deus.
(Manuel Lema)
SUGESTÕES DE LEITURA:
1- RYKEN, Leland. Santos no Mundo. SP: Fiel, 2013. [Cap. 2]

COMUNHÃO COM DEUS, UM DESAFIO APAIXONANTE



"Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2:9).

Esse texto nos mostra claramente que nossa salvação não é pelas obras, e não depende de nós; é pela graça mediante a fé que é dom de Deus (Ef 2:8). Assim sendo, posso seguramente afirmar que somos salvos para as boas obras e não pelas obras. De forma bem simples pretendo falar do tema acima citado, visto que, a comunhão com Deus é extremamente vital na vida do cristão.
É bem sabido por muitos que Deus nos elegeu para a salvação em Cristo Jesus. Fomos predestinados por Deus, mas isso não quer dizer que não temos responsabilidades quanto a nossa caminhada de fé. Pelo contrário, a graça e a eleição eterna não anula a responsabilidade humana. É nossa responsabilidade ter uma vida de comunhão com Deus, o autor da nossa salvação. Nosso desafio diário é ter comunhão com Deus. Este deve ser o nosso maior desafio: se achegar a Deus por meio de seu Filho, pela operação do Espírito Santo.
Deus nos convida a termos comunhão com Ele através de dois aspectos fundamentais. Primeiro, a leitura da sua Palavra. observe o o que foi dito ao povo de Israel: "Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os preceitos que o Senhor teu Deus mandou ensinar-te, a fim de que os cumprisses na terra a que estás passando; para a possuíres; e para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e para que se prolonguem os teus dias" (Dt 6:1-2). Quanto mais nos dedicamos no estudo da Palavra mais conheceremos, mais temeremos, reverenciaremos, glorificaremos, lovaremos a Deus, e viveremos segundo a sua vontade. Quanto mais desejamos e estudamos a Palavra de Deus, mais cresceremos em santidade e menos pecaremos contra Deus (Sl 119:11). Precisamos examinar as Escrituras, pois nela contém a vida eterna (Jo 5:39).
Outro aspecto é a oração. "Orai sem cessar" (1Ts 5:17). Esse é outro aspecto importante da comunhão com Deus, o estudo da Palavra deve produzir em nós a necessidade de orar a Deus, seja por gratidão pela salvação, vida, família, amigos, emprego, provações, arrependimento, súplica por perdão de pecados e louvores a Deus. Deus quer que nos comuniquemos com Ele, e que o conheçamos todos os dias. Isso não é uma tarefa fácil para nós, homens com a natureza corrompida pelo pecado, e por isso, o tema "Comunhão com Deus, é um desafio apaixonante". Devemos ter e querer a comunhão com Deus mais do que a qualquer coisa, antes das terrenas, devemos buscar as coisas do alto.
Nossas boas obras são frutos exteriores da operação que o Espírito Santo faz no nosso interior. Nossa comunhão com a igreja é verdadeira quando exterioriza nossa comunhão com Deus e não o contrário. É importante quantas vezes nos reunimos com os santos para prestar culto e adorar a Deus, é importante também o quanto nós mesmos sem ninguém do lado prestarmos culto a Deus. Nossa piedade não deve começar no exterior, e sim no interior, tendo em vista a glória de Deus como motivação, a Palavra e oração como sendo nosso sustento.
Meus irmãos, somos convocados a um desafio árduo, pois, todos os dias temos que lutar contra a carne, contra o mundo e satanás. Todos os dias somos chamados a mortificar a carne (Rm 8:13), e isso é feito através de uma incessante comunhão com Deus. Esse deve ser o nosso maior e mais apaixonante desafio pois não tem alegria maior do que estar na presença do Senhor.
Que o Senhor nos abençoe!
(Alber Pacavira)

A IMPOTÊNCIA HUMANA



“E os que ouviram isto disseram: Logo quem pode salvar-se?” (Lucas 18:26)


Lembro-me, quando incrédulo, quis encontrar em mim alguma obra que pudesse me tornar digno da graça de Deus. Porém, não tendo encontrado, conclui que ninguém no mundo seria salvo porque julgava que a salvação fosse pelas obras.
O nosso texto expressa a questão levantada pelos discípulos do Senhor Jesus, após ele ter apresentado o perigo da ganância. Essa pergunta foi levantada depois da ilustração que Jesus fez, após a reação do jovem príncipe, quando disse que, “…é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.” “De acordo com o pensamento judeu, a prosperidade era um sinal do favor de Deus para aqueles que guardavam a Lei (Dt 28:1-8). Se um homem era rico, deveria ser bom. O pronunciamento de Cristo constituiu um choque para os seus discípulos, porque eles tinham certeza de que um homem rico devia ser justo” (Comentário Bíblico – Mood).
Chocados com a declaração de Jesus, questionaram-no: quem pode salvar-se? E a resposta de Jesus foi: “(…) aos homens é isto impossível, mas a Deus tudo, é possível” (Mt 19:26). Entendamos que nos versos anteriores, Jesus condena a ganância, e não a riqueza em si. Não ousemos dizer que nenhum rico será salvo, pois, há registos na Bíblia, de homens ricos que creram em Jesus (Jo 19:38-39; At 10); também não cuidemos que, a riqueza ou a pobreza, seja sinal de benção ou maldição.
Não são poucos, entre os evangélicos, que julgam terem potencial para salvar a si mesmo. Até entre alguns pregadores tem se notado, frequentemente, apelos persuasivos que denotam, estare no poder do homem, a capacidade de decidir, como eles dizem, aceitar Jesus – a salvação - ou não. O exemplo do camelo apresentado por Jesus, esmaga esse orgulho humano e, apresenta a onipotência de Deus como o pano de fundo da salvação do homem. Se por um lado há aqueles que julgam serem salvos pelas suas obras, por outro, há aqueles que julgam que está em seus arbítrios, o preferir ser salvo ou não. Mas a verdade é que ambos estão errados. À luz das Escrituras, o homem natural, não somente é cego quanto as coisas espirituais (1Co 2:14), como também encontra-se morto em seus pecados e delitos (Ef 2:1), e encontra-se com uma vontade escravizada pelo pecado (Jo 8:34). Porque se o homem é potente para salvar a si mesmo, por que razão oramos para Deus os salvar?
Em outras ocasiões Jesus declarou, quanto a impotência humana, o siguinte: "(…) sem mim nada podeis fazer” (Jo 15:5); “(…) Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:44). A impotência humana está entrelaçada com a sua depravação total. O homem não pode escolher entre ser salvo e ser condenado, e se pudesse, certamente, ainda que não deseja, escolheria a condenação, tal como o profeta declarou: "porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” (Jr 13:23).
A salvação para o homem certamente é impossível, porque todos nós, temos o mesmo potencial de nos opormos a graça salvadora em nossas vidas, a não ser que haja intervenção Divina, tal como Jesus respondeu: “mas a Deus tudo, é possível" (v. 27).
Se hoje professamos a fé em Cristo Jesus, não é porque fomos habilidosos o suficiente para aceitar a salvação que nos foi oferecida pela pregação da fé em Jesus Cristo, porque isto, não depende de quem quer, nem de quem corre, mas de Deus, que se compadece, como está em Romanos 9:16. Mas se hoje cremos, é porque o Senhor compadeceu-se de nós. Devemos então, ser gratos em adoração e ação de graças a Deus, por essa GRAÇA concedida a miseráveis pecadores impotentes como nós. Portanto, clamemos todos a uma: “(…) Do SENHOR vem a salvação” (Jonas 2:9).
Deus nos abençoe!
(Manuel Lema)

A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS



“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. (2 Timóteo 3.16-17, ARA)


Somente as Escrituras. Essa foi a instrução crucial de Paulo para que o ministério de Timóteo fosse bem-sucedido e glorificasse a Deus. Para que Timóteo recebesse essas instruções de Paulo, a permanecer naquilo que tinha aprendido, era porque, certamente, o povo estava se desviando e trocando os ensinamentos das Escrituras por falsos ensinos. Kevin Vanhoozer parafraseando David Wells, um historiador do passado que falou do tema Sola Scriptura (um dos pilares da Reforma Protestante), disse algo muito interessante em relação ao evangelicalismo de sua época deixando claro a sua posição sobre o que estava acontecendo com os cristãos. Vanhoozer parafraseou, dizendo que, “O profeta lamentador do evangelicalismo lamentou por anos a tendência dos evangélicos de trocarem o seu direito de primogenitura, Sola Scriptura, por um prato de cozido de sola cultura.” Diante disso, nós percebemos a importância das Escrituras tanto para Timóteo, quanto para todo o povo de Deus que lutou contras as heresias, e ainda continuam lutando contra os falsos ensinos.
Paulo expressou a importância das Escrituras em cada detalhe do texto direcionado a Timóteo. Desta forma, quero destacar duas características (de 2Tm 14-17) nos versículos 16-17, que apontam para quatro pontos importantes que envolvem a utilidade da Palavra de Deus, para que o homem de Deus seja preparado de acordo com a Palavra.
Em primeiro lugar, a palavra "Ensinar"está relacionada com aquilo que Paulo está falando sobre os ensinos dele. E o que está implícito aqui é a atividade de comunicar conhecimento acerca da revelação de Deus em Cristo. Em segundo lugar, a palavra "Repreensão" significa o confronto, o teste, ou um controle de qualidade de fé diário! Precisamos fazer advertências baseadas na Palavra e também advertências ao nosso próprio coração. Em terceiro lugar, vemos a palavra "Corrigir". O significado dessa palavra é restaurar o estado correto. É utilizado um termo médico aqui nessa palavra como, ortopedia, ou ortodontia, que tem o sentido de colocar no lugar correto, ou corrigir o que está errado. Por último, "Educar na justiça". Essas palavras têm o sentido de educar a criança, num processo que envolve disciplina! No mundo greco-romano significava educar com disciplina, ou seja, não era apenas chamar a atenção de uma criança, mas se fosse necessário, era aplicado castigos físicos. Diferentemente de hoje, naquela época um pai não seria processado por dar algumas palmadas no seu filho", pois a disciplina não era algo banal, e sim, um meio eficaz para educar as crianças.
Diante dessas definições, nesses quatro pontos, nós observamos sobre o ensino acerca da revelação de Deus em Jesus Cristo, a importância de repreender segundo a Palavra de Deus, a correção das Escrituras quando erramos e somos colocados no caminho correto, e isso também vemos como uma demonstração de amor por um Pai que corrige os filhos a quem ama (Hb 12.6-7). E por último, a educação na justiça envolve disciplina quando erramos. Deus nos perdoa, mas logo após o perdão, nós somos disciplinados pelo erro. Sendo assim, Deus não chama a nossa atenção apenas com o mover do Espírito, mas também nos disciplina, e se necessário, também nos dá a punição devida, para que sejamos educados corretamente na justiça fazendo o que é certo, e não aquilo que da certo. Por fim, embora a última característica, bem como todas as outras, sejam uma instrução específica para Timóteo, também podem ser aplicadas ao crente. A última característica é “a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado”. O Homem de Deus mencionado aqui no texto, é o cristão. E a palavra “habilitado” aqui é ser perfeito no que ele é e faz. Ou seja, para exercer adequadamente o ofício pelo qual Timóteo foi chamado, ele precisava ser habilitado ou equipado pela suficiência das Escrituras, porque não há revelação fora delas.
Paulo, iluminado pelo Espírito Santo, demonstra não estar satisfeito, enquanto a Palavra de Deus não cumprir plenamente sua missão, e o crente não tiver alcançado “a medida da estatura da plenitude de Cristo.” Esse poder para alcançar estatura vem de Deus, e, portanto, Paulo disse a Timóteo: permaneça firme na doutrina genuína. Essa exortação também é direcionada a todos nós que cremos no Senhor. Sendo assim, qual tem sido a utilidade das Escrituras para nós? Elas estão nos ensinando, repreendendo, corrigindo e educando-nos a fazermos o que é certo? Que possamos refletir sobre isso, amados irmãos, e que o Senhor nos ajude a permanecermos alicerçados somente nas Escrituras, pois elas mostrarão como devemos viver a vida cristã. Que as palavras de Lutero nos tragam encorajamento, a fim de não negociarmos a verdade trocando-a por fábulas: “Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”. Sendo assim, faça o que é certo; não o que dá certo.
Sola Scriptura.

(Jose Junior)

O TRABALHO NA VISÃO BÍBLICA REFORMADA






A concepção do trabalho como uma das maldições da queda é antibíblica. Em nenhuma parte das Escrituras o trabalho é tratado como uma das maldições da queda. O trabalho fora dado ao homem muito antes dele ter caído em pecado (Gn 2.7-8,15), e é reafirmado por Deus após a queda do mesmo (Êx 20.8-11). O pronunciamento em Gênesis 3.19 não é de maldição, mas sim, que após a queda o trabalho do homem seria penoso, cheio de fadiga e cansaço, diferentemente do trabalho realizado antes da queda. Isso é confirmado pelo quarto mandamento e pelas suas razões anexas (Êx 20.8-11). Ali vemos Deus não somente estabelecer um dia de descanso (v.4), mas também referir-se ao trabalho não como algo ruim (fruto de maldição), mas como algo bom e legítimos. Deus aqui mesmo se mostra como um modelo de trabalhador (Êx 20.11), sendo Aquele que trabalhou arduamente em seis dias, descansou no sétimo, e estabeleceu um dia para o homem cessar com o seu trabalho semanal (mandato cultural) e assim, manter comunhão com o seu Criador (mandato espiritual). Sendo assim, o trabalho não pode ser visto como uma das maldições da queda, primeiro porque a própria narrativa da queda não fala isso (como mostramos acima), e, segundo, porque a referência de Deus ao trabalho no quarto mandamento não é como uma consequência de maldição, mas como algo bom e legítimo, como atestam os restantes relatos bíblicos (p.ex. 2Ts 3.6-12).
Um outro aspecto a ser mencionado na concepção Bíblica Reformada do Trabalho, é que ela visa o serviço ao próximo. O objetivo da nossa vida é servir a Deus, e em nosso trabalho, nós servimos a Deus, servindo ao nosso próximo. Assim, os lucros de nosso trabalho não são o verdadeiro propósito dele. Talvez as palavras do puritano reformado Willian Perkins servem para responder as possíveis objeções sobre isso: “Alguns homens talvez dirão: ‘Não devemos trabalhar em nossa vocação para sustentar nossa família?’ Eu respondo: isso tem de ser feito, mas esse não é o objetivo e o escopo de nossa vida. O verdadeiro objetivo de nossa vida é servir a Deus, em servir ao homem; e, como recompensa desse serviço prestado, Deus envia sua bênção sobre os trabalhos dos homens, e permite que eles a recebam por seus labores” (Citado por Ray Pennings em Trabalhando Para Glória de Deus, in Joel Beeke, Vivendo para a Glória de Deus, p.373.). Nesse mesmo texto, Ray Pennings nos informa que “Calvino empregou a linguagem do ‘corpo’ presente do Novo Testamento não somente para falar sobre a igreja, mas também para descrever a obrigação dos cristãos para com o seu próximo e a sociedade. Em um sermão sobre 1 Timóteo 6.17-19, ele falou sobre ‘a afeição fraternal que procede da consideração que temos quando Deus nos coloca juntos e unidos em um único corpo, porque ele deseja que cada um de nós empregue a si mesmo em benefícios do próximo, de modo que ninguém fique preso à sua própria pessoa e sirva a todos em comum’” (Ibd., p.376).
Portanto, o trabalho na visão Bíblica Reformada é algo digno. Nela devemos visar o bem comum. Devemos trabalhar para obter benefícios não meramente pessoais, mas para o bem da comunidade. Aqui se acha a concepção de como o trabalho pode ser visto como adoração a Deus, pois, ao servir ao próximo estamos cumprindo com a suas ordens dadas na criação (Gn 1.26-30).

(Kennedy Bunga)
SUGESTÃO DE LEITURA:
1 – BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. SP: Cultura Cristã, 2012.
2- PERNNINGS, Ray. Trabalhando Para Glória de Deus, Capítulo 25 de Joel Beeke, Vivendo para a Glória de Deus. SP: Fiel, 2016.

DEUS GLORIFICADO, ALMA SATISFEITA: O ENCANTO DA PLENA SATISFAÇÃO EM DEUS




Em grande parte, a recusa de muitas pessoas em se tornarem cristãos é pelo fato de encararem o cristianismo como uma labuta enfadonha e negativa: “não posso fazer isso, nem aquilo”. No entanto, essa é uma concepção errado de uma vida voltada para Deus. Há uma harmonia na glorificação de Deus e nossa satisfação. A glória de Deus e o nosso bem não são opostos, nem divididos. Quando glorificamos a Deus nossa alegria é mantida. Aliás, a realização humana só é encontrada na glorificação de Deus. "É no aprendizado, e na prática de glorificar a Deus que, como criaturas de Deus, encontramos a nossa realização. Isto porque, o ser humano só se completa quando vive para glória de Deus, que é também, o seu fim último (2Co 5.8; Gl 2.20; Fp 1.21,23)" (Hermisten Maia, Introdução à Metodologia das Ciências Teológicas, p. 203.).
É um conceito errado, portanto, ver a glória de Deus em oposição (ou disputa) à alegria humana. Nós fomos criados para a glória de Deus; esse é o nosso fim supremo, e aqui se acha a nossa alegria. Em resposta à pergunta: “Qual é o fim supremo e principal do homem?”, o Catecismo Maior de Westminster responde: “O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. O puritano Jonathan Edwards colocou da seguinte forma: “Glorificar a Deus ao desfrutá-lo para sempre”. É um esforço inútil buscar alegria fora da glorificação de Deus. Nossos primeiros pais já nos mostraram isso. Em Gênesis lemos que Deus os proibiu de adquirirem do fruto do conhecimento do bem e mal. A obediência disso seria a glorificação de Deus, e resultaria na alegria deles. A desobediência disso, seria buscar a alegria fora de Deus, e a nossa presente situação, e do mundo, revelam em que isso resultou.
De fato, muito bem tem dito o exultante John Piper: “Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos n’Ele”. É uma missão suicida dicotomizar nossa alegria da glorificação de Deus. A felicidade do homem está condicionada a glorificação de Deus. O homem só descobre o sentido da vida quando consegue compreender que seu principal fim e de todas as coisas criadas é a glória de Deus (1 Co 10.31; Cl 3.23). Só quando o homem se volta para Deus é que ele encontra de fato o sentido da vida. Entendendo ser uma missão impossível a busca da alegria fora de Deus, João Calvino aconselha: “Não busquemos nossos próprios interesses, mas antes aquilo que compraz ao Senhor e contribui para promover sua glória” (A Verdadeira Vida Cristã, p.30. Cf. As Institutas III.7.2). Quando Deus é glorificado, nossa alma é satisfeita. Aqui se acha o encanto da plena satisfação em Deus. Nossa realização se acha na glorificação de Deus. Agostinho de Hipona, que viveu boa parte de sua vida distante de Deus, buscando prazeres nas criaturas, mais tarde confessou: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti” (Santo Agostinho, As Confissões, I, 1,1).
Caro amigo, é inútil buscar prazer nas coisas criadas; sua plena satisfação se acha em Deus. Ao buscar Deus, procuramos a felicidade. Não é sem razão que quando Agostinho entendeu isso confessou: “Tarde Te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu Te procurava do lado de fora! Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das Tuas criaturas. Estavas comigo, mas eu não estava Contigo. Retinham-me longe de Ti as Tuas criaturas, que não existiriam se em Ti não existissem. Tu me chamaste, e Teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e Tua Luz afugentou a minha cegueira. Aspergiste Tua fragrância e, respirando-a, suspirei por Ti. Eu Te saboreei, e agora tenho fome e sede de Ti. Tu me tocaste e agora estou ardendo no desejo de Tua Paz” (Santo Agostinho, As Confissões, X, 27,38).

(Kennedy Bunga)
SUGESTÕES DE LEITURA:
1- PIPER, John. Plena Satisfação em Deus: Deus glorificado e a alma satisfeita SP: Fiel, 2009.
2- PIPER, John; TAYLOR, Justin (Org.). Fascinado pela Glória de Deus: o legado de Jonathan Edwards. SP: Cultura Cristã, 2011.

NÃO VOS CONFORMEIS COM ESTE MUNDO



"E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimentais qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." (Rm 12:2, ARA).


Nota-se claramente que o presente século está cheio de pecado. Todos os dias nos deparamos com algum mal ou pecado, e não só isso, vivemos num mundo em que temos que lidar com crentes e não crentes, e estamos sujeitos às influências que nos podem levar a glorificar a Deus ou a pecar contra Ele. Depois de pedir aos santos de Roma que apresentassem seus corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o culto racional (v.1), Paulo segue instruindo aos santos, para que não se conformassem com "este século ". Como assim? O que Paulo quis dizer?
Ao escrever "este século", Paulo referia-se ao mundo como sendo o mal e os pecados que corrompem o mundo, e não ao mundo como a criação de Deus. Os crentes são chamados a não amarem esse mundo, seus prazeres e desejos pecaminosos. Muitas vezes temos feito o contrário, temos nos conformado com o mundo, temos sido omissos em não repreender práticas pecaminosas, alguns chegam a apoiar essas mesmas práticas. Em nossas famílias, amizades e até em igrejas tem pessoas levando uma vida mundana e ficamos alheios a isso, e muitos outros apoiam.
O ser humano é imitador por natureza. Ao invés de imitar a Cristo, alguns crentes estão imitando o mundo e estão se deixando levar pelo mundo e seus prazeres, desejando mais os prazeres terrenos e finitos do que a Jesus, que é a vida e gozo eterno. A Bíblia nos adverte a não amarmos o mundo, nem as coisas que nele há (1Jo 2:15). O amor ao mundo nos separa de Deus: "Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" (Tg 4:4).
Não devemos nos conformar com este mundo, nem com nada que há nele ou que nos possa oferecer. O pecado deste mundo não vem de Deus: "Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus, permanece para sempre" (1Jo 2:17). Vamos buscar a Deus, vamos abandonar o mundo todos os dias e correr para Deus, imitar a Cristo, o Filho de Deus. A quem você está imitando?
Que Deus nos abençoe!
(Alber Pacavira)

A VIDA DEDICADA DE GEORGE WHITEFIELD: UM COMPROMISSO SINGULAR COM JESUS CRISTO





Muitos homens e mulheres foram chamados por Cristo, a fim de trabalharem em favor do Reino de Deus. Esse trabalho para o qual foram designados (os filhos de Deus) exige uma vida de dedicação e entrega. O próprio Filho de Deus, como disse Paulo, viveu uma vida de dedicação, sofrimento e entrega total (Fp 2.5-8). Hernandes Dias Lopes disse em um de seus sermões, que o "caminho feito por Jesus até a cruz deve ser o mesmo caminho que nós devemos fazer". Ou seja, a vida de dedicação e entrega de Jesus devem ser o maior exemplo de como devemos viver uma vida dedicada a vontade de Deus (Lc 22.39-42).
No entanto, poucos estão dispostos a andar pelo caminho espinhoso da cruz, que embora seja estreito e cheio de dor, ao final produzirá vida eterna aos peregrinos que perseverarem nesse caminho (que exige sacrifício e abandono do eu) (Mt 7:13-14).
Embora o significado da palavra dedicação, que expressa "qualidade ou condição de quem se dedica a alguém ou algo", seja uma definição corriqueiramente usada em nossa sociedade, nós precisamos nos perguntar o que a Bíblia diz sobre como devemos nos dedicar e a quem devemos dedicar a nossa vida. Para responder essa pergunta é importante dar a devida atenção ao que Jesus disse em um dos mandamentos: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12:30). Nesse mandamento, nós encontramos a resposta sobre a quem devemos dedicar a nossa vida e como devemos nos dedicar: amar somente a Deus oferecendo a nossa vida como um todo. Isso exige dedicação e entrega total.
Ainda que encontremos homens que se entregam pelo evangelho com toda a sua força, quando olhamos para o passado, observamos que existiram homens mais valentes e corajosos, que amavam a Cristo profundamente, e foram (e ainda são) influenciadores de almas, que amavam profundamente e ensinavam outros a amarem a Cristo com toda alma e toda a força.
Um dos homens que exemplifica uma vida de dedicação e influência era um homem conhecido como o príncipe dos pregadores. Não me refiro a Spurgeon, mas sim, o exemplo em quem Spurgeon se apoiou. Segundo Lloyd-Jones, George Whitefield foi o maior pregador inglês de todos os tempos. [...] A sua influência na Inglaterra, sua influência em Gales, sua influência na Escócia e sua influência na América em especial, está além do que se possa calcular. Whitefield era um homem incansável, cujo ministério, “não conhecia descanso”. Esse homem respirava o evangelho e dedicou a sua vida mesmo diante de uma doença que o acometeu (Steven J. Lawson, O Zelo Evangelístico de George Whitefield, p.38-39, 43).
Segundo Steve Lawson, qualquer que seja o nosso entendimento a respeito desse homem e de seu zelo evangelístico, é preciso levar em consideração a sua vida espiritual. Mesmo diante de uma investigação superficial sobre George Whitefield, perceberemos que pelas poucas coisas que alguns estudiosos mencionam a respeito desse homem, tais relatos revelam Whitefield como um homem “denominado por dedicação singular a Jesus Cristo” (p.43).
Porém, qual a razão de tanta dedicação e tanto sucesso no ministério? A resposta é óbvia, pois Whitefield amava Jesus Cristo e tinha um grandioso afeto pela glória de Deus. Ele era um "itinerante incansável", dedicado a pregação do evangelho (O Zelo Evangelístico de George Whitefield, p.44) Já o seu sucesso, estava alicerçado em cinco aspectos que certamente impulsionavam esse homem a se dedicar ainda mais.
Em primeiro lugar, ele era um home imerso nas Escrituras, que tinha um compromisso inabalável com as Escrituras, ou como disse Dallimore, citado por Steven Lawson: "Podemos vê-lo às cinco da manhã em seu quarto", ou seja, lendo as Escrituras (p.45)
Em segundo lugar, ele era um homem que orava sem cessar, que vivia saturado pela oração. Ele insistia que os filhos de Deus deveriam orar secretamente. "Conversar menos com os homens, e mais com Deus". Ele se derramava em uma vida de oração diária e se questionava sobre sua fé com diversas cobranças, a fim de que fosse um cristão melhor e mais dedicado (p.47).
Em terceiro lugar, Whitefield era focado em Jesus Cristo. Jesus sempre foi o seu único amor. Ele também encorajava os seus ouvintes para que olhassem somente para Cristo e tivessem sede diariamente pela justiça de Cristo (p. 50-51).
Em quarto lugar, ele era revestido de humildade. Ele confessava em suas orações as seguintes palavras: "Sou menor que os menores dos santos — sou dos principais pecadores". Ele compreendia que se houvesse obsessão pelo seu próprio eu, a pregação não teria efeito nenhum. Sendo assim, após examinar-se, ele disse: "Ah, esse amor próprio, essa vontade de exaltar o eu! É diabo dos diabos". Ele era humilde e precavido, pois sabia que o seu eu poderia derrubá-lo (p.52-53).
Em quinto e último lugar, ele lutava por santidade. Ou seja, a sua vida foi marcada por piedade, uma busca pela santidade pessoal. Ele entendia que "a santidade jamais poderia ser obtida enquanto estivermos agarrados ao pecado". Whitefield levava a sério a sua vida pessoal e lutava constantemente contra o pecado e reconhecia que a santidade era uma "transformação progressiva", uma busca diária por uma vida integra de acordo com a Escritura (p.55-56).
Tal era a dedicação desse homem. De fato, ele se apresentou à Deus oferecendo sua vida "como sacrifício vivo e santo". Em um de seus clamores a Deus, Whitefield disse: "Entrego a ele minha alma e meu corpo, a ser disposto e gasto em seu labor como ele desejar. Daqui em diante eu resolvo, com sua assistência... viver uma vida mais restrita que antes, entregando-me à oração e ao estudo das Escrituras [...] Deus me dê saúde, se for sua bendita vontade... Eu me entrego inteiramente a ele" (p.58).
Portanto, diante desse breve relato da vida dedicada de Whitefield, nós precisamos refletir se de fato temos nos dedicado como deveríamos, e se temos nos oferecido como sacrifício vivo e santo a Deus (Rm 12.1). Observamos anteriormente uma vida, que além de Cristo, exemplifica uma vida de dedicação e uma vida que estava disposta a trilhar os mesmos caminhos de Jesus. Sendo assim, o quanto você tem se dedicado e se entregado ao trabalho do Senhor? O quanto você tem amado Cristo? O quanto você segue os exemplos de Cristo? O quanto você se identifica com a vida dedicada de Whitefield? O quanto você está disposto a perder por causa de Cristo e a se dedicar inteiramente a ele? Você teria a mesma coragem que os Jovens Moravianos, que se ofereceram para serem escravos para sempre, a fim de pregarem o evangelho? Você estaria disposto a dedicar a sua vida como esses jovens?
Por fim, ame servir a Cristo e dedique-se como um todo, como sacrifício vivo e santo, pois essa é a exortação de Paulo aos romanos, bem como a todos nós que cremos no Senhor (Rm 12.1). Já é hora de despertar do sono (Rm 13.11-12), pois o dia se aproxima.
Que o exemplo de dedicação de George Whitefield seja um exemplo para nós, e que assim, sejamos saturados pelas Escrituras, saturados por uma vida de oração, focados em Cristo, revestidos de humildade e guerreiros na luta pela santificação sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12:14).
(José Jr. )
SUGESTÃO DE LEITURA:
1 - LAWSON, Steven J. O Zelo Evangelístico de George Whitefield: Um perfil de homens piedosos. SP: Fiel, 2013.
2- Os Jovens Moravianos. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/2009/08/jovens-moravianos/>
3 - PACKER, J. I. O Conhecimento de Deus. SP: Cultura Cristã, 2014.

O TEMPO NÃO PERDOA




“Sendo o rei Davi já velho e entrado em dias, envolviam-no com roupas, porém não se aquecia. Então, lhe disseram os seus servos: Procure-se para o rei, nosso senhor, uma jovem donzela, que esteja perante o rei, e tenha cuidado dele, e durma nos seus braços, para que o rei, nosso senhor, se aqueça.” (1Reis 1.1-2) 


 

Não faz muito tempo que em meu momento devocional dei um pulo de susto ao ler que Davi se achava tão velho e inválido ao ponto de precisar de uma jovem que o aquecesse, pois embora “envolviam-no com roupas, porém não se aquecia”. De fato, surtei pensando comigo mesmo: “não é esse Davi, o valente rei de Israel, o qual era aclamado: ‘Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares’ (1 Sm 18.7)?! Não é esse que derrotou o grande gigante Golias, e muitos povos inimigos?!” Com certeza é ele mesmo; porém, os anos se passam, e a vida se esvai. 

A imutabilidade é um dos atributos que Deus não comunicou ao homem. Nós somos seres mutáveis. O que fomos ontem, não somos hoje nem seremos amanhã.  Em cada dia que passa sofremos transformações em nossa estrutura biológica. Essa é uma verdade que todos nós sabemos e acreditamos, ainda que vivamos em uma era de antiverdade, num século que apregoa a inexistência de verdade absoluta.  

O texto acima epigrafado deveria nos levar a refletir. A vida é passageira, os anos não perdoam, a velhice e/ou a morte se avizinha, e a eternidade se aproxima. Como temos vivido a nossa vida, como temos usado o nosso tempo, como temos aproveitado cada momento presente? Essas e outras tantas são questões que certamente devem ocupar nossa mente, tendo em vista que o tempo não perdoa. 

Uma vez que o tempo não perdoa, devemos viver responsavelmente em cada minuto de nossa vida, aproveitando as oportunidades que a santa Providência nos dá e desfrutando do dom da vida, visando a glorificação do Criador dela. Alguém sabiamente já disse: "Viva de tal forma que, ao final de sua vida você não tenha mais nada a fazer para Deus, a não ser morrer." Fazendo uso da graça comum, temos de concordar com a sábia colocação de um outrora pagão, agora cristão, ao cantar e encantar que: “sessenta segundos, [é] um minuto da minha vida; vinte e quatro horas, é mais um dia de corrida; quatro semanas, [é] um mês pra ganhar ou perder; [e] doze meses, [é] uma vida pra se viver”.  

Portanto, meus amados irmãos, que eu e você tenhamos sempre em vista essa verdade universal. Que ao nos lembrarmos disso vivamos dignamente e aproveitemos cada minuto da vida, desfrutando das coisas lícitas e renunciando as ilícitas.  
Deus o abençoe! 

(Kennedy Bunga) 

  

 

O VERDADEIRO USO DA LIBERDADE CRISTÃ



"Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo Amor". (Gálatas 5:13, ARC) 
 


 

A carta de Paulo aos Gálatas é um verdadeiro tratado sobre a liberdade cristã, como consequência de termos sido justificados unicamente pela fé em Cristo Jesus. Somente nesse livro, a palavra liberdade e a sua raiz (livre) aparecem por dez vezes, e todas elas referindo-se direta ou indiretamente a liberdade que alcançamos em Cristo Jesus. Isso claramente mostra para nós o quão preocupando o apóstolo estava em afirmar essa verdade.  

Em nosso texto, Paulo declara que os cristãos foram chamados por meio da fé em Cristo Jesus à uma vida de liberdade, cujo a palavra no grego "eleútheria", refere-se à uma Liberdade espiritual inaugurada na cruz. E ele afirma que esta liberdade isenta o homem de qualquer legalismo ou auto-justificação (Rm 8.21; Gl 5.1). Em outras palavras, Paulo diz que por termos sido justificados pela fé devemos permanecer vivendo pela fé e não nos colocando novamente debaixo julgo da lei, mas vivendo na liberdade alcançada por Cristo.  

As perguntas que ficam são as seguintes: Como então devemos usar dessa liberdade que Cristo alcançou para nós no madeiro? Será que por sermos livres podemos agora viver a nosso bel prazer? Será que podemos viver sem regras, sem obrigações e nem quem diga, o que fazes? Será que por estar livre em Cristo significa que posso agora pecar livremente sem me preocupar com as consequências, porquê sou livre?  

A resposta a essas perguntas é um claro e bem audível não. Por quê não, se sou livre? Essa seria provavelmente a próxima questão, e a resposta dela é, porque a liberdade cristã não significa libertinagem. 
 

Sendo assim, Paulo nos mostra isso expondo como não devemos, e como devemos usar nossa liberdade e o fundamento para que façamos isso.  

I - Como não devemos usar a liberdade Cristã? Não devemos usar nossa liberdade Cristã como uma licença para pecar - "Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne" (v.13b).  

Muitos em nossas igrejas ainda confundem liberdade com libertinagem, e pensam que por terem sido libertos do julgo da lei em Cristo, podem usar esse fato como uma desculpa para viver uma vida pecaminosa. Tal atitude é reprovável, pois como bem afirma o apóstolo Pedro, a nossa liberdade não deve dar cobertura a malícia (1Pe 2.16). Paulo também nos ensina a mesma coisa no nosso texto, quando diz que não devemos dar ocasião a nossa carne.  

A palavra "ocasião" usada por Paulo vem da palavra grega "aphorme", que traz a ideia de "base de operação de guerra". É um termo militar que Paulo usa para descrever que a liberdade cristã não é para oferecer uma base de operação para a carne. No tocante a palavra "carne", o apóstolo quer falar sobre a natureza humana, terrena e inclinada ao pecado. É a natureza humana caída do homem sem ação transformadora do Espírito Santo operando nela. A essa carne os cristãos não devem dar o controle de suas vidas, mas sim ao Espírito de Deus pelo qual todos os verdadeiros filhos de Deus são guiados (Rm 8.14). 
 

II - Como devemos usar a liberdade Cristã? Devemos usar nossa liberdade Cristã como um meio de servir o nosso próximo - "mas servi-vos uns aos outros" (v. 13c). 

A expressão "servi-vos" usada por Paulo refere-se ao ato de alguém subservir-se a outrem. Ou seja, é o ato de sujeitar-se a vontade de outro; em nosso caso, aqui trata-se de uma sujeição voluntária em que nos colocamos livremente ao dispor do nosso irmão e não só.  

Paulo diz que essa deve ser a atitude de cada um de nós para com o outro. Amado (a), assim deve ser usada a nossa liberdade, como um meio de buscarmos fazer o bem ao nosso próximo para glória de Deus e nunca o contrário.  

III - Que fundamento temos para esse uso da liberdade Cristã? Devemos usar nossa liberdade não como uma licença para pecar, mas como um meio de servir o nosso próximo, por causa do amor - "Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo Amor" (v. 13).  

A palavra "amor", usada no nosso texto vem da palavra, "ágape" do grego, e refere-se a um amor mais elevado como o próprio Senhor Jesus ensina em Mt 5:43-48, onde somos chamados a amar os nosso inimigos a fim de sermos semelhantes a Deus. Esse é o ágape cristão, onde nosso maior objetivo é buscar o mais elevado bem das pessoas a nossa volta, mesmo dos nossos inimigos. 

“O grande presidente dos Estados Unidos, Abraão Lincoln soube muito bem praticar este ágape cristão. Ele foi acusado de tratar seus oponentes com demasiada cortesia e amabilidade, quando era seu dever destruí-los. Sua resposta foi interrogativa: ‘Não destruo meus inimigos quando faço deles meus amigos?”  

Esse amor é caracterizado tanto por Paulo como pelos outros apóstolos, e até por Cristo, como um sentimento de auto-sacrifício a favor de outrem, e como já vimos até dos nossos inimigos (Rm 12. 7), à exemplo de Cristo. Pois quando éramos inimigos ele se deu a morte por nós, afim de nos reconciliar com Deus (Rm 5.10). 

Portanto assim como Ele nos amou mesmo nós tão merecendo, devemos amar o nosso próximo também, porque ninguém será tão imerecedor do teu amor como tu és do amor de Deus.  


Somente em Cristo podemos ver o quão real é essa verdade meus irmãos. O amor que limita a liberdade cristã só tem verdadeiro sentido e peso quando é visto à luz da cruz, onde Cristo por amor de nós foi injuriado (Rm 15. 3). Somente um coração transbordando da graça pode com verdadeira sinceridade amar o seu próximo como a si mesmo, pois somos naturalmente egoístas, e só a verdade do evangelho de Cristo Jesus pode mudar corações como o nosso.  

(Edvaldo Neto)