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quinta-feira, 23 de julho de 2020

SOLUS CHRISTUS


Como um leão rugi afim de mostrar aos seus adversários que certo pedaço de terra pertence a ele. Os cinco Solas são como que o rugido do Leão de Judá pela boca dos reformadores. É o rugido que mostra a suficiência das Escrituras na matéria de fé e prática. É o rugido que mostra polarização da redenção na pessoa de Cristo. É o rugido que mostra que somos salvos pela graça de Deus. É o rugido que mostra que só por meio da fé em Cristo podemos alcançar essa salvação e é o rugido que mostra que toda Glória pertence à Deus e não aos homens.
Esses cinco princípios formam a espinha dorsal da reforma protestante, são o âmago da visão doutrinária dos reformadores do século XVI.
Eles surgiram para combater as heresia perpetradas pela igreja católica romana naquele tempo, e ainda hoje vemos a suma importância de reafirmamos tais verdades por serem atemporais, principalmente diante do fato de que heresias antigas tendem a voltar, trajada de vestes modernas mas porém as mesmas heresias, como diz o Pr. Batista Igor Miguel, "hereges pensam todos do mesmo jeito".
A expressão Sola vem do latim, e significa no português, “somente”. Somente as Escrituras, somente por Cristo, somente pela graça, somente por meio da fé e somente a Deus glória. Hoje iremos falar sobre o Solus Christus, "somente por Cristo".
A doutrina do Somente por Cristo afirma a suficiência e exclusividade de Cristo na mediação entre o homem e Deus. É a resposta dos reformadores aos desvios da igreja católica romana do evangelho, com a instituição do culto a Maria, já em 431, o culto às imagens, em 787, e a canonização dos santos, em 933. E também a instituição da figura do sacerdote como Vigário de Cristo, a quem devem ser confessados os pecados e a quem supostamente foi conferido o poder para perdoar pecados, mediante a prescrição de penitências.
Ela é a doutrina da não aceitação de qualquer adição a obra mediadora realizada por nosso Senhor Jesus. Quando lemos texto como 1Tm 2.5 ou At 4.12 vemos claramente está verdade. Paulo diz: " Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens...” (1Tm 2.5). Pedro diz: "E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos” (At 4.12).
Os dois textos falam no singular: um mediador e um salvador. Apontando apenas para uma pessoa, apenas um é o mediador e apenas um é salvador, afastando a possibilidade de acréscimos pois tal ato seria o abandonar das verdades bíblicas. Cristo Jesus é apresentado nas Sagradas Escrituras como sendo esse único mediador e salvador, não Cristo e o dízimo, não Cristo e Maria, não Cristo e as nossas boas obras, não Cristo e a igreja. Mas apenas Cristo.
A centralidade de Cristo é o fundamento da fé protestante. Martinho Lutero disse que Jesus Cristo é o “centro e a circunferência da Bíblia”, e isso significa que a vida e obra de nosso Senhor Jesus Cristo são o assunto fundamental das Escrituras.
Ele é o único salvador dos escolhidos de Deus (At 2.5), de modo que todas esperanças dos verdadeiros cristãos residem nele. Nele depositaram suas esperanças os apóstolos, os pais da igreja, os reformadores, os puritanos, e nós também devemos colocar todas as nossas esperanças de redenção nele. Como disse Ulrich Zwingli: “Cristo é o Cabeça de todos os crentes, os quais são o seu corpo e, sem ele, o corpo está morto”.
Verdadeiramente sem ele nada podemos fazer, e nele podemos todas as coisas (Jo 15. 5; Fp 4:3). Somente em Cristo podemos ser salvos, em Rm 1-2, Paulo deixa claro que podemos conhecer a Deus por meio de sua auto manifestação na criação e no coração de cada homem, por meio da lei neles gravada. Todavia nenhum homem poderá alcançar a Deus e a salvação por meio deste conhecimento, pois fora de Cristo não há salvação.
Falando sobre a possibilidade de adição a obra redentora de Cristo, o catecismo Nova Cidade na sua pergunta número 33 diz:
"Os que têm fé em Cristo devem buscar a salvação pelas próprias obras ou em outro lugar?" E responde com um enfático não! "Não, não devem, pois tudo que é necessário à salvação se encontra em Cristo. Buscar a salvação pelas boas obras é negar que Cristo seja o único redentor e salvador" (Gl 2.16).
Como cristãos que procuram ao máximo ser bíblicos, e como detentores de uma herança tão rica como a que nos foi deixada pelos reformadores e muitos santos antes deles, como Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, devemos viver e defender está verdade que é o centro do Evangelho bíblico. Pois ou Cristo é o nosso único e suficiente salvador ou nada ele pode ser para nós.
Sobre isso também convém atentarmos ao que João Calvino diz: "Afirmamos que, independentemente do tipo de obra que uma pessoa faça, é considerada justa diante de Deus simplesmente com base na misericórdia gratuita; porque Deus, sem respeito às obras, adota a pessoa gratuitamente em Cristo, imputado a ela a justiça de Cristo como se fosse sua..."
Qualquer acréscimo a essa obra acabaria por desvirtuá-la. Nada pode ser acrescentado a obra de Cristo. Por isso devemos rugir bem auto o "Solus Christus" para que todos possam ouvir.
Gostaria de terminar usando uma ilustração de Timothy Keller, que tal vez nos ajude a perceber a importância do somente por Cristo:
[O sr. A pediu que o sr. B lhe fizesse um armário de madeira porque o sr. B era um excelente marceneiro. O sr. B e o sr. A eram amigos, portanto o sr. B disse: "Bem, vou fazer isso muito bem... Um trabalho perfeito". Assim, ele trabalhou e se esmerou com o armário até o ponto em que tinha sido lustrado e polido com perfeição. Ele trouxe o sr. A à oficina para ver, e o sr. A tomou uma lixa e disse: "Deixa que eu acrescente só uma lixa". E o sr. B disse: "Não! Está acabado. Está perfeito. Não há como acrescentar a ele sem subtrair dele".
O mesmo ocorre com a obra de Jesus Cristo, porque quando Jesus morreu disse "está consumado". Não há nada a acrescentar. É perfeito. Se você tentar acrescentar alguma coisa, só vai diminuir].
E é sobre isso que o Solus Christus fala, sobre a suficiência de Cristo Jesus como Salvador do seu povo. A isso nada pode ser acrescentado sem diminuir.

Por: Edvaldo Neto – membro da Igreja Presbiteriana de Angola; seminarista do Seminário Teológico Presbiteriano “Rev. Neves Mussaqui”.
RECOMENDAÇÃO DE LEITURA:
1 - KELLER, Timothy. O Deus Pródigo. SP: Vida Nova, 2019.
2 - SPROUL, R. C. Quem é Jesus. SP: Fiel, 2014.

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