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segunda-feira, 22 de novembro de 2021

A ASCENSÃO E EXALTAÇÃO DE CRISTO


 


 

O famoso Credo Apostólico traz em seu terceiro artigo as seguintes palavras sobre o Cristo ressurreto: “...subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso”. Esta declaração é uma síntese das verdades bíblicas sobre ascensão e exaltação de Cristo.

Embora o Credo apostólico não fora propriamente elaborado pelos apóstolos, ela é uma declaração da igreja pós-apostólica na tentativa de confessar publicamente as verdades bíblicas ensinadas pelos apóstolos, as quais eles piamente criam (por isso o nome Credo Apostólico). O presente artigo procura fazer uma abordagem do significado e a vital importância da ascensão e exaltação de Cristo para a igreja e o cosmo.

 

1.    O Significado da Ascensão de Cristo

O termo “está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso”, deve ser entendida como uma figura de linguagem. Ela comunica a exaltação que Cristo recebeu de seu Pai para reinar sobre todas as coisas em seu nome (Fp 2.9-11; Ef 1.20-23; 1 Co 15.27), bem como expressa sua função definida como Rei sobre a nova criação que começou com a sua vinda (Mt 3.2) e mostrou-se triunfante em sua ressurreição (Mt 28.18). Assim, o ato de assentar-se a direita de Deus Pai, nas palavras de Calvino, “se trata não do posicionamento do corpo, mas da majestade de senhorio, de sorte que estar assentado outra coisa não é senão presidir sobre o tribunal celeste”. [1]

Agora, é necessário entender que tanto a ascensão de Cristo como o ato de assentar-se a direita de Deus Pai mostram ter Cristo não apenas o governo sobre a sua igreja (reino espiritual), mas sobre a toda a sua criação (reino cósmico). O reino de Deus sobre o cosmo, a qual fora uma vez “abalada” pela entrada do pecado, (primeiro na criação angelical, depois na criação humana, afetando o cosmo inteiro) agora com a morte, ressurreição e ascensão de Cristo é redimida por Cristo. Paulo disse que em Cristo Deus nos revelou “o mistério da sua vontade, segundo o beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef 1.9-10). Portanto, a exaltação de Cristo declara ele como o Rei do Universo (At 2.36).

2.    A Relevância da Ascensão de Cristo

Embora já pudemos ver a glória de Cristo ao ressurgir dos mortos, ao subir ao céu ele foi verdadeiramente exaltado ao seu reino (Sl 110). Pelo que sua ascensão era necessária para que verdadeiramente reinasse sobre todas as coisas. Paulo apresenta que importava “ter ele subido aos céus para que preenchesse todas as coisas” (Ef 4.10).

Precisamos entender que Cristo “retirou-se de nós para que sua retirada nos fosse mais benéfica do que esta presença que, por quanto tempo andou na terra, estava contida no desprezível habitáculo da carne”. [2] De fato, o próprio Senhor Jesus nos afirmou da importância da sua ascensão aos céus, retirando-se de nós por breve tempo, isto é, de modo físico. Sua retirada dentre nós era necessária a fim de: 1) ir nos preparar lugar (Jo 14.1-3), 2); 2) enviar o Espírito sobre nós, o amado Consolador/Auxiliador (16.7; 14.16-17); e 3) ser o nosso representante junto ao Pai (Jo 16.23-27).

A retirada de Jesus dentre nós certamente não significa que ele tenha falhado na sua promessa de estar conosco até ao fim dos séculos. Devemos nos lembrar de que Cristo é tanto verdadeiro homem como verdadeiro Deus. O Catecismo de Heideberg, respondendo a essa questão diz: “Segundo a sua natureza humana, não está agora na Terra; mas segundo a sua divindade, majestade, graça e Espírito, jamais se afasta de nós”. [3]

3.    Os Três Ofícios de Cristo em sua ascensão e exaltação

Cristo em sua ascensão e assentar-se a direita de Deus Pai cumpre de modo pleno com os três ofícios de sua vocação: Profeta, Sacerdote e Rei.

Como profeta, podemos identificar o comprimento de todas as profecias registradas na Bíblia sobre aquilo que na teologia é chamado de “O Cordão Dourado”: Reino, Pacto e Mediador. Cristo cumpriu em sua vida, morte e ascensão as promessas da instalação do reino cósmico de Deus (Sl 110; Mt 4.17; 5.17; 28.18-20), da aliança deste reino feita por Deus Pai (Sl 2; Mt 17.5; Hb 1.1-14; Hb 8; Hb 10), mediante Cristo, o Deus Filho, para com os homens (1 Ts 1.10; 1 Tm 2.5).

Como Sacerdote, “Cristo faz a sua intercessão apresentando-se em nossa natureza, continuamente, perante o Pai, no céu (Hb 9.12,24), pelo mérito da sua obediência e sacrifício cumpridos na terra (Hb 1.3), declarando que a sua  vontade seja aplicado  a todos os crentes (Jo 3.16; 17.9,20,24); respondendo a todas as acusações contra eles (Rm 8.33-34); adquirindo-lhes paz de consciência, não obstante as faltas diárias (Rm 5.1-2; 1 Jo 2.1-2), dando-lhes acesso com confiança ao trono da graça (Hb 4.16) e assegurando a aceitação da pessoa (Ef 1.6) e do serviço deles (1 Pe 2.5)”. [4]

Como Rei, Cristo chama “do mundo um povo para si (Is 55.5; Gn 49.10), dando-lhe oficiais (1 Co 12.28), leis (Jo 15.14) e disciplinas, para visivelmente o governar (Mt 18.17, 18); dando a graça salvadora aos eleitos (At 5.31); recompensando a obediência deles (Ap 22.12) e corrigindo-os por causa dos seus pecados (Ap 3.19); preservando-os dos e sustentando-os em todas as suas tentações e sofrimentos (Rm 8.337-39); restringindo e vencendo todos os seus inimigos (1 Co 15.25); poderosamente, dirigindo todas as coisas para a sua própria glória (Rm 14.11) e para o bem do seu povo (Rm 8.28), e também castigando os que não conhecem a Deus nem obedecem ao evangelho (2 Ts 1.8; Sl 2.9)". [5]

4.    Os Benefícios da Ascensão de Cristo para sua igreja

Seria tolo se não considerarmos os benefícios que a nossa fé obtém da ascensão de Cristo, pois a ascensão de Cristo beneficia grandemente sua igreja. O Catecismo de Heidelberg, em resposta à pergunta “que importância tem para nós a ascensão de Cristo?” [6], diz: 1) Ele é, no céu, nosso Advogado junto ao Pai (Rm 8.34; 1 Jo 2.1); 2) Em Cristo temos nossa carne no céu como garantia segura de que ele, como nosso Cabeça, também nos levará para si como seus membros” (Jo 14.2-3; Ef 2.6); 3) Ele nos envia seu Espírito como garantia. Pelo poder do Espírito, buscamos as coisas que são do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus, e não nas coisas que são da Terra” (Jo 14.16; Jo 16.7; At 2.23; 2 Co 1.22; 2 Co 5.5; Fp 3.20; Cl 3.1) .

Conclusão

Assim, a ascensão de Cristo e o ato de assentar-se a direita do Pai era necessário para manifestar-se no céu como Cabeça de sua igreja e para governar sobre todas as coisas em nome do Pai (Ef 1.20-23; Cl 1.18; Mt 28.18; Jo 5.22; Fp 2.9-11), de onde, por seu Espírito Santo, ele derrama sobre nós os dons celestiais (Ef 4.8-12) e nos defende e protege por seu poder contra nossos inimigos.

 

Por: Kennedy Bunga

NOTAS:
[1] - CALVINO, 
João Calvino. As Institutas. SP: Cultura Cristã, 2006, p. 275
[2] - Ibid., 
p. 273
[3] - 
Catecismo de Heideberg, Perg. 47
[4] - 
Catecismo Maior de Westminster, Perg. 55
[5] - 
Ibid., Perg. 45
[6] - 
Catecismo de Heideberg, Perg. 49

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