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terça-feira, 23 de novembro de 2021

AS MUDANÇAS VISÍVEIS DO ARREPENDIMENTO

 

 

Podemos todos saber acerca de Deus, mas só se achegam a Deus com um coração sincero, aqueles que na realidade experimentaram o verdadeiro arrependimento. Entretanto, onde flui o verdadeiro arrependimento há um coração regenerado e nasce também a mortificação do pecado como consequência da infusão da graça. Gerando abnegação e é sobretudo visível o converter-se do pecado. 

O arrependimento produz no coração penitente uma aversão para com o pecado, que consequentemente o leva abandonar o pecado. “Deixe o perverso o seu caminho” (Is 55.7). Uma pessoa verdadeiramente arrependida abandona o caminho do pecado. 

O arrependimento é um fruto da livre graça de Deus. Não é na sua totalidade uma obra humana. Para que haja arrependimento é necessário o juízo da transgressão cometida. Uma das características do pecado é cegar a mente, como também prender o coração do homem no pecado. 

Olhos abertos é um dos primeiros passos para que haja arrependimento. A percepção de seu estado de pecador é fruto da intervenção graciosa de Deus. Saulo (At 9.1-19) precisou desta intervenção para compreender que é um pecador e não estava servido a Deus. O povo de Nínive precisou ouvir de Jonas (intervenção de Deus) para perceber o seu estado e voltar-se para Deus (arrepender-se, Jn 3). Davi precisou de Natã (para abrir-lhe os olhos) e arrepender-se (Sl 51).

O notável pastor puritano Thomas Watson, num dos seus clássicos, The Doctrine of Repetance (A doutrina do Arrependimento), pintou o quando do arrependimento da seguinte forma: “Um navio se dirige ao leste; e o vento muda seu rumo para o oeste. De modo semelhante, um homem se encaminhava para o inferno, mas o vento contrário do Espírito soprou, mudou o seu rumo e o fez andar em direção ao céu”. [1] Este é uma clara descrição da intervenção graciosa de Deus no arrependimento. Ainda assim, este converter-se do pecado implica uma mudança notável. Converter-se do pecado é tão visível que os outros podem percebê-lo. Por isso, é chamado de uma mudança das trevas para a luz (Ef 5.8). Paulo, depois de ter recebido a visão celestial, ficou tão diferente que todos se admiraram da mudança (At 9.12). 

Está intervenção que nós conceituamos como regeneração não simplesmente abre os olhos, como também gera um genuíno arrependimento e por último habilita-nos a responder com fé o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Deus como grande cirurgião efectua a regeneração.  O arrependimento é a expressão de um coração regenerado e este é acompanhado de mudanças transformadores e visíveis. Para Watson, “Essa mudança visível que o arrependimento produz em uma pessoa é como se outra alma se abrigasse no mesmo corpo”. [2] 

Ademais, para melhor compreensão dessa mudança, tratamo-la como “converter-se do pecado”. Assim fez também Watson no seu tratado quanto a descrição do arrependimento.  Quando lemos sobre o povo de Nínive, sobre Davi, depois da intervenção de Deus é visível as mudanças que o arrependimento traz na vida de quem experimenta. Portanto, O arrependimento deve ser um modo de vida, querido leitor e amado irmão. Isto é, o arrependimento deve ser parte do nosso viver diário. ”Morrer para o pecado é a vida do arrependimento”. Na prática do arrependimento, “os olhos devem fugir de vislumbres impuros. O ouvido tem de fugir dos escárnios. A língua, do praguejamento. As mãos, dos subornos. Os pés, dos caminhos das meretrizes. E alma, do amor à impiedade”. [3]

 

Por: C. R. Bernardo

 

NOTA:

[1] - Watson, Thomas,The Doctrine of Repetance, published byThe Banner of Truth Trust in .U.S A.
[2] - Ibid.
[3] - Ibid.


“DEUS ME ACEITA COMO SOU”


 

 

“Deus me aceita como sou”. Assim diz aquele que vive na promiscuidade, idolatria, na rebeldia contra Deus, que se deleita nos prazeres da carne, e de modo algum quer abandonar seus pecados, antes, pelo contrário, quer justificá-los. Normalmente essa afirmação é antecedida por “não julgueis para não serem julgados”, “todos somos filhos de Deus”, “Deus é amor”, ou é sucedida de “eu posso fazer e ser quem eu quiser”, “respeito a posição da igreja, mas Deus mesmo me aceita assim como sou”.

A primeira coisa que essa afirmação nos mostra é uma falsa compreensão do Ser de Deus, afinal “Deus é amor”, esquecem-se que Ele também é santo, e Deus é justo só quando se sentem injustiçados. Ou ainda, mostra a tentativa de se fazer um Deus a imagem e semelhança do homem, que compreenda e atenda nossos caprichos, que passe a mão na cabeça e não corrige os erros, um Deus que é influenciado pelas ações e decisões humanas. Pois, é essa ideia de Deus que muitos se não a maioria dos que fazem essa afirmação têm em mente, para muitos Deus é como os deuses gregos que dependiam das orações dos homens para que se mantivessem fortes ou mesmo sobrevivessem. Essa afirmação é uma revelação do quão raso é o conhecimento da escritura que muitas pessoas possuem, porque até onde sabemos o evangelho nos muda, faz-nos novas criaturas.

É uma afirmação de que Deus os aceita e aceitará mesmo tendo uma vida promiscua e totalmente depravada. Alguns destes já ouviram a pregação do evangelho, mas se mantêm incrédulos, sem arrependimento, com cada vez mais prazer na vida mundana. As pessoas que pensam assim veem nessa falsa ideia um passaporte para a libertinagem, para viver do seu próprio jeito, e ainda assim, serem aceitas por Deus. Revelam não terem fé em Deus e sem fé é impossível não só agradar a Deus, como também é impossível ser salvo (Hb 11:6). Será que Deus me aceita mesmo como sou?

A resposta é não. Só existe um caminho e um único Mediador para se achegar a Deus e ser aceite por ele, e este é Jesus (Jo 14:6; 1Tm 2:5). Deus não nos aceita como somos em nós mesmos, por algo que fizemos ou que venhamos a fazer, Ele nos aceita como salvos, justos, redimidos, santos como somos em Cristo por meio da fé (Gl 3:26-27; At 13:39; Rm 5:1,9, 3:24). Sim, em Jesus ele faz tudo isso. Só é aceite por Deus aquele que creu em Jesus Cristo (Jo 1:12; 1Jo 5:10-12, Rm 10:12), e quem não crê nele está condenado (Jo 3:18). Essa questão é bem simples: se crês em Jesus Cristo como Senhor e Salvador estás salvo, não crês estás condenado.

Ao contrário do que os defensores desta afirmação pensam, apenas os salvos são guiados pelo Espirito Santo: “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temerem, mas receberam o Espírito que os torna filhos por adoção, por meio do qual clamamos: "Aba, Pai" (Rm 8:14-15). Todo que é aceite por Deus tem comunhão com Deus e prazer nas coisas de Deus (Sl 1:2, Mt 6:33, Cl 3:1); Todo aceite por Deus torna-se nova criatura e vive num processo de santificação (Lv 20:7, 2Co 5:17, Hb 12:14, 1Pe 1:14-14). São santos, obedientes e praticantes da lei de Deus (Lv 20:7-8, Tg 1:22).

João Calvino ao falar sobre a vida cristã afirmou: “Já dissemos que o escopo da regeneração é que na vida dos fiéis se faça patente harmonia e conformidade entre a justiça de Deus e sua obediência, e dessa forma confirmem a adoção mercê da qual foram recebidos por filhos [Gl 3.24; 2Pe 1.10]”. [1] Isso nos mostra a ligação que existe entre a salvação, adoção e obediência a Deus, o salvo é obediente ao Pai (Deus), e não vive mais rebeldia contra a vontade do Pai.

Então, não se engane pensando que sem fé em Cristo, sem arrependimento, sem nascer de novo és aceite por Deus. Como a Bíblia declara: “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus” (1Co 6:9-10). Portanto, é necessário crer em Cristo, se arrepender e nascer de novo (Mc 16;16; Jo 3:5,16, 36; At 2:38). Como disse o puritano William Whatley: ”Se Cristo viessse e morresse dez mil vezes por um único homem, todas essas mortes não adiantariam em nada para a salvação desse homem, a menos que ele fosse feito uma nova criatura”. [2] 

Infelizmente, a proposta de evangelho que muitas pessoas têm recebido não é o convite para o arrependimento, transformação de vida, santificação, relacionamento com Deus, mas um chamado a gozarem das bênçãos de Deus sem qualquer compromisso com o Deus das bênçãos. Muitos querem apenas experiências com Deus e zero compromisso com ele, mas lhes asseguro que ter experiências com Deus e não resultar em compromisso e mudança de vida é um sinal de que se caminha rumo ao abismo.

Para quem pensa e procede desta maneira, ouça as palavras de nosso Senhor: “Mas, se não se arrependerem, todos vocês também perecerão” (Lc 13:3). Se não te arrependeres do pecado e crer em Cristo, lamento informar, você não é aceite por Deus. Por isso, creia em Jesus, arrependa-se dos seus pecados e serás salvo. Jesus é o único meio de salvação, a fé em Cristo é única maneira de se achegar a Deus e de ser aceite por ele.

 

Por: Alber Pacavira

NOTA:
[1] - CALVINO, João Calvino. As Institutas. Vol. III. SP: Cultura Cristã, 2006, p. 155.
[2] - Citado por BEEKE, Joel R.; JONES, Mark. Teologia Puritana: teologia para vida. SP: Vida Nova, 2016, p. 668.