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quinta-feira, 23 de julho de 2020

(IN)JUSTIÇA POÉTICA

“Tudo isto vi nos dias da minha vaidade: há justo que perece na sua justiça, e há perverso que prolonga os seus dias na sua perversidade” (Eclesiastes 7.15).

Ah! A justiça poética! Como ela é querida e ansiada! Geralmente pensamos que aqueles que agem mal sempre vão colher os piores frutos de sua vida de pecado e miséria. Acreditamos que o fim do assassino é ser morto, afinal de contas, quem vive da espada, morre pela espada (Mt 26.52). No entanto, nem sempre é assim. O que Jesus fez foi citar uma espécie de ditado de sua época. Ditados não afirmam normas absolutas, mas tendências. Por exemplo, quando vemos: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Pv 22.6), esse provérbio não afirma, de forma alguma, que a criança que cresce no evangelho jamais se desviará dele. Denota uma tendência, aquilo que possivelmente ocorrerá, pois foi o que modelou sua vida. É muito importante que entendamos que Deus é justo e perfeito, mas não o mundo em que vivemos. Esperar que todos os que praticam crimes e injustiças sejam necessariamente castigadas nesta terra é mal compreender o ensinamento divino. É verdade que as Escrituras relacionam sim tanto o favor quanto o desfavor do Senhor às obras de cada um, mas nunca como se fosse uma regra matemática. Na maior parte das vezes, o que vive da espada, morre pela espada, como Jesus disse. É a maior probabilidade, como já vimos. Em nossos dias, um traficante de vinte e seis anos pode ser considerado um “idoso”, pois a grande maioria não chega a essa idade. Porém, há casos nos quais tal não acontece. O conhecidíssimo Fernandinho Beira Mar, que até pela guerrilha colombiana da coca já lutou, está “vivo e ativo no planeta terra”, comandando o tráfico de dentro do presídio. Assim, devemos entender que geralmente as pessoas acabam colhendo o que plantaram, mas há exceções. O ensinamento de Salomão no verso epigrafado é muito importante, pois nos mostra uma visão madura e sábia da vida. Há perversos que realmente viverão muitos anos praticando sua injustiça, roubando, matando, e praticando toda forma de mal, bem como, há justos que morrerão por sofrerem as maiores injustiças. Sem dúvida, o próprio Cristo se enquadra neste exemplo. É provável que a maioria da humanidade acredite que a justiça sempre triunfará em todas as causas humanas. Todavia, quem assim crê, está sujeito a enormes decepções, inclusive com Deus, porque haverá situações quando o mal triunfará nesta terra. A leitura que fará é que o Senhor não é justo, e em vão procurou fazer o que é aprovado e correto. A injustiça nos relacionamentos humanos, a materialização da grande capacidade para o mal que tem o ser humano, faz parte do próprio juízo de Deus contra a humanidade caída. Eis o porquê de o Deus santo e amoroso permiti-lo. Boa parte dos sofrimentos que o pecador enfrentar na presente vida foi causada por pecadores como ele. Assim, entendamos que, acima de tudo, nosso compromisso com a verdade e a retidão não pode estar associado ao resultado, como se sempre fôssemos nos dar bem, ou, como se a justiça sempre prevalecesse em todas as minhas causas. Sendo este o nosso interesse, procuramos um “investimento”, um esforço que visa tão-somente nosso próprio benefício. Temos que operar o bem por ser o certo, independentemente dos resultados. Compreendamos que o bem sempre triunfará, mas do ponto de vista da eternidade, não na história deste mundo caído. Os crentes do final do primeiro século eram jogados nas arenas para serem destroçados pelas feras, ridicularizados pelos romanos. Onde estava a vitória deles? Onde foi feita justiça para eles? Conquanto o Senhor derrame algum juízo contra os ímpios já nesta terra, não é a aplicação final e definitiva de sua justiça. Isso só ocorrerá na volta de Cristo. Assim, não esperemos sempre ver o mal “se dando mal” nesta terra. Embora, de fato, muitas vezes o ímpio receberá algumas consequências de suas más ações: “quem planta vento, colhe tempestade”, haverá ocasião em que ele viverá se “beneficiando” da maldade até o último dia de uma longa vida. Deus não tem o compromisso de operar justiça definitiva nesta terra, mas apenas no final. Sejamos maduros, para não desfalecermos esperando justiça final no decorrer da história dos homens. Sejamos justos apesar das injustiças que sofremos. Um dos maiores perigos para o crente é ser convencido de que não vale a pena viver corretamente. Pressionado por atitudes malignas de inimigos, pode ceder à tentação de se valer das mesmas armas fraudulentas. Nosso exemplo é Cristo, alçado acima de toda glória, por se resignar diante da injustiça. Ele tinha a plena certeza da justiça final e definitiva do último dia. Tenha um excelente dia na presença do Senhor.
(By: Rev. Jair de Almeida Junior).

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