Os Puritanos viveram em tempos mui difíceis. Foram homens que aprenderam o que é sofrer. E isso não somente no que concerne as controvérsias religiosas que minaram seu ministério, mas também em situações difíceis em suas vidas pessoais. Em tudo isso, o que mais nos admira é a postura cristã dos puritanos ao lidar com as aflições, coisa essa que certamente devemos aprender com eles. “Seus diários, algo típico dos puritanos, são repletos de submissão centrada em Cristo em meio a aflição” (Joel Beeke, Aprenda com os Puritanos (I), p. 199, em Amado Timóteo). À título de exemplo, o puritano Ebenezer Erskine, que enterrou mais de uma esposa e seis de seus quinzes filhos, disse as seguintes palavras: “Deus tocou minha família com o seu cajado, com a grande angústia de uma amada esposa, sobre quem o Senhor colocou sua mão, e sobre quem sua mão ainda permanece pesadamente. Mas que, ainda assim, eu possa exaltar as maravilhas de sua graça gratuita [...]” (Citado por Joel Beeke, Ibid., p. 199-200).
Tal espírito de submissão em meio a aflição não era visto apenas nos homens puritanos, mas também em suas mulheres. Sarah Edwards, mulher do famoso puritano Jonathan Edwards, ao receber a trágica notícia da morte de seu esposo, escreveu a sua filha, que havia perdido tanto seu esposo como seu pai, a fim de dar-lhe consolo, e disse: “Minha querida filha, o que devo dizer? Um Deus santo e bom cobriu-nos com uma nuvem escura. Oh, sejamos submissas ao mestre e tapemos a boca com as mãos! O Senhor fez isso. Ele me fez adorar sua bondade, por meio da qual o tivemos por tanto tempo. Mas o meu Deus vive e tem o meu coração. Oh, que legado meu esposo e seu pai nos deixou! Todos fomos dados a Deus, com Ele estou e amo estar com Ele” (Citado por Steven Lawson, As Firmes Resoluções de Jonathan Edwards, p.30-31)
Os puritanos assim respondiam as aflições porque entenderam “que Deus tem apenas um Filho sem pecado, mas nenhum sem aflição”, conforme disse um puritano. O puritano Thomas Brooks disse que “Deus, que é infinito em sabedoria e incomparável em bondade, ordenou que dificuldades, aliás muitas dificuldades, avancem de todos os lados sobre nós” (Citado por Joel Beeke, Teologia Puritana, p.161-162). Eles viam as aflições como um meio providencial de Deus para imprimir mais plenamente em nós a imagem de Cristo. É por essa razão que John Bunyan disse: “o povo de Deus é como sinos; quanto mais forte lhes batem, melhor será o som” (Joel Beeke, Ibid., p. 201).
Joel Beeke, um excelente estudioso dos puritanos da atualidade, disse que “podemos aprender com os puritanos que precisamos das aflições para nos tornarmos humildes (Dt 8.2), para nos ensinarem o que significa o pecado (Sf 1.12), para nos levar a Deus (Os 5.15)” (Joel Beeke, Ibid., p. 200). Falando da influência das aflições em sua própria vida, ele escreveu: “[...] minha grande influência tem sido as aflições que meu soberano Deus me envia e que espero e desejo me tenham santificado. Tenho receio de considerar quem e onde eu estaria sem a mão paternal, amorosa e disciplinadora de Deus. Sei isto: se Deus não tivesse me quebrantado profundamente, e muitas vezes, em sua sabedoria soberana, eu seria mais orgulhoso do que sou” (Joel Beeke, Vivendo para Glória de Deus, p.14).
Assim, os Puritanos nos ensinam que as aflições são meios ordinários de Deus para nos fazer amadurecer. Essa tem sido a soberana sabedoria de Deus para trabalhar nosso caráter e nos tornar mais parecido com seu Filho. Que Deus nos abençoe para que em meio as aflições sejamos firmes e busquemos forças n’Ele!
(Kennedy Bunga)
SUGESTÃO DE LEITURA:
1- BEEKE, Joel; JONES, Mark. Os Puritanos e a Providência, capítulo 10 de Teologia Puritana. SP: Vida Nova, 2016.
2- BEEKE, Joel. Aprenda com os Puritanos (I), capítulo 12 de Amado Timóteo. SP: Fiel, 2015.
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