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quarta-feira, 22 de julho de 2020

O TRABALHO NA VISÃO BÍBLICA REFORMADA






A concepção do trabalho como uma das maldições da queda é antibíblica. Em nenhuma parte das Escrituras o trabalho é tratado como uma das maldições da queda. O trabalho fora dado ao homem muito antes dele ter caído em pecado (Gn 2.7-8,15), e é reafirmado por Deus após a queda do mesmo (Êx 20.8-11). O pronunciamento em Gênesis 3.19 não é de maldição, mas sim, que após a queda o trabalho do homem seria penoso, cheio de fadiga e cansaço, diferentemente do trabalho realizado antes da queda. Isso é confirmado pelo quarto mandamento e pelas suas razões anexas (Êx 20.8-11). Ali vemos Deus não somente estabelecer um dia de descanso (v.4), mas também referir-se ao trabalho não como algo ruim (fruto de maldição), mas como algo bom e legítimos. Deus aqui mesmo se mostra como um modelo de trabalhador (Êx 20.11), sendo Aquele que trabalhou arduamente em seis dias, descansou no sétimo, e estabeleceu um dia para o homem cessar com o seu trabalho semanal (mandato cultural) e assim, manter comunhão com o seu Criador (mandato espiritual). Sendo assim, o trabalho não pode ser visto como uma das maldições da queda, primeiro porque a própria narrativa da queda não fala isso (como mostramos acima), e, segundo, porque a referência de Deus ao trabalho no quarto mandamento não é como uma consequência de maldição, mas como algo bom e legítimo, como atestam os restantes relatos bíblicos (p.ex. 2Ts 3.6-12).
Um outro aspecto a ser mencionado na concepção Bíblica Reformada do Trabalho, é que ela visa o serviço ao próximo. O objetivo da nossa vida é servir a Deus, e em nosso trabalho, nós servimos a Deus, servindo ao nosso próximo. Assim, os lucros de nosso trabalho não são o verdadeiro propósito dele. Talvez as palavras do puritano reformado Willian Perkins servem para responder as possíveis objeções sobre isso: “Alguns homens talvez dirão: ‘Não devemos trabalhar em nossa vocação para sustentar nossa família?’ Eu respondo: isso tem de ser feito, mas esse não é o objetivo e o escopo de nossa vida. O verdadeiro objetivo de nossa vida é servir a Deus, em servir ao homem; e, como recompensa desse serviço prestado, Deus envia sua bênção sobre os trabalhos dos homens, e permite que eles a recebam por seus labores” (Citado por Ray Pennings em Trabalhando Para Glória de Deus, in Joel Beeke, Vivendo para a Glória de Deus, p.373.). Nesse mesmo texto, Ray Pennings nos informa que “Calvino empregou a linguagem do ‘corpo’ presente do Novo Testamento não somente para falar sobre a igreja, mas também para descrever a obrigação dos cristãos para com o seu próximo e a sociedade. Em um sermão sobre 1 Timóteo 6.17-19, ele falou sobre ‘a afeição fraternal que procede da consideração que temos quando Deus nos coloca juntos e unidos em um único corpo, porque ele deseja que cada um de nós empregue a si mesmo em benefícios do próximo, de modo que ninguém fique preso à sua própria pessoa e sirva a todos em comum’” (Ibd., p.376).
Portanto, o trabalho na visão Bíblica Reformada é algo digno. Nela devemos visar o bem comum. Devemos trabalhar para obter benefícios não meramente pessoais, mas para o bem da comunidade. Aqui se acha a concepção de como o trabalho pode ser visto como adoração a Deus, pois, ao servir ao próximo estamos cumprindo com a suas ordens dadas na criação (Gn 1.26-30).

(Kennedy Bunga)
SUGESTÃO DE LEITURA:
1 – BIÉLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. SP: Cultura Cristã, 2012.
2- PERNNINGS, Ray. Trabalhando Para Glória de Deus, Capítulo 25 de Joel Beeke, Vivendo para a Glória de Deus. SP: Fiel, 2016.

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