A primeira coisa que me disponho a admitir neste artigo sobre o tema depravação total, é o que R. L. Dabney em seu artigo sobre Os Cinco Ponto do Calvinismo diz, "Historicamente, esse título é pouco preciso ou pior" A expressão "Depravação Total" (que não pertence a João Calvino, embora expresse sua posição) peca porque contém uma ambiguidade. Por isso muitos em seu primeiro contacto com essa expressão pensam que ela significa: Calvino e os calvinistas ensinam que todos os pecadores são tão completamente maus quanto podem ser.
Mas o que realmente os ministros de todas as igrejas reformadas da Europa, que se reuniram em concílio na Holanda de 1618 à 1619, no que ficou conhecido como Sínodo de Dort, queriam dizer com a expressão depravação total?
Esse concílio foi realizado na cidade de Dordrecht e tinha como fim analisar os artigos apresentados pelo partido dos Remonstrantes ou como conhecemos arminianos. Artigos esses que foram condenados como heresia pelas igrejas reformadas da Europa, após longa e acurada análise, por serem primeiro anti-bíblicos e segundo contrários a confissão das igrejas reformadas ao longo de sua história.
E como resposta aos artigos apresentados pelos arminianos os ministros que se reuniram em Dort redigiram aquilo que conhecemos como os cinco pontos do Calvinismo, que tem como primeiro ponto a doutrina da Depravação Total. Mas o que eles queriam dizer então com essa expressão?
Antes de mostrar o que eles queriam dizer, permita-me mostrar o que eles não queriam:
1- Quando eles denominaram o estado caído de todos os homens de depravação total, eles e nem nós queremos dizer com isso que os homens desde sua nascença são tão maus quanto podem ser.
2- Também não queremos com isso dizer que os homens não têm virtudes sociais sinceras para com os seus próximos.
3- E não afirmamos como fazem os extremistas, que por eles serem homens naturais, todas as suas boas obras, as suas amizades, honestidade e amor doméstico são hipócritas. Pois como nos é bem ensinado em Mc 10.21 que Jesus olhando para as virtudes do jovem rico que veio até ele de joelhos o amou. Mostrando como diz R. L. Dabney "Que os piores (homens) retêm algum, e os melhores muito, poder de vontade para diversos bens morais que acompanham a vida social... Pois Cristo nunca teria amado meras hipocrisias".
Mas afirmamos sim, aquilo que está exposto na Confissão de Fé de Westminster, em IX.3: "O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, é inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso."
O que a confissão está a dizer para nós é que homem em seu está caindo é totalmente incapaz de buscar a Deus, porque com a queda ele passou a ter sua vontade escravizada pelo pecado de tal modo que não busca e nem pode buscar qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação. Pois a queda levou o coração do homem a uma alienação para com Deus, completa e decisiva.
Embora possamos usar nossa vontade para fazer algum bem moral por causa daquilo que João Calvino chamou de “graça restringente”, (que conhecemos como “graça comum”). Todavia, em nosso estado natural não há nada em nós que tenha sido poupado por meio do qual podemos alcançar a Deus e a salvação. Como bem expõe Jonh McArthur:
"A depravação é "total" no sentido de que afeta todas as partes de nosso ser, não somente o corpo, não somente as emoções, mas igualmente a carne, o espírito, a mente, as emoções, os desejos, os motivos e a vontade, juntos... Nós mesmos somos totalmente corruptos, porque de uma maneira ou de outra o pecado contamina tudo que pensamos, desejamos e fazemos. Portanto, nunca tememos a Deus da maneira como deveríamos, nunca O amamos como deveríamos e nunca Lhe obedecemos com um coração completamente puro".
Então quando falamos que o homem é totalmente depravado, queremos com isso dizer que o homem está totalmente morto em seus delitos e pecados (Ef 2:1; Cl 2.13), como bem diz Herman Hanko, em seu livro Os cinco pontos do Calvinismo, morte e depravação total são sinônimos. O homem está morto para as coisas de Deus, e morto em seus delitos e pecados, o que significa que ele está claramente vivo para tudo o que é mal, todo o seu ser, corpo e alma estão vivos e ativos para o pecado, para o que não agrada a Deus. E aqui dizer que todos os atos moralmente bons que são feitos por um coração que não ama, não teme e não confia em Deus é pecado (Rm 14.23).
A figura do morto usado por Paulo em Efésios mostra a total incapacidade do homem de escolher o bem em vez do mal, mostra a sua total incapacidade de vivificar a si mesmo, e também sua total incapacidade de por vontade própria buscar ou negar a salvação graciosamente doada por Deus, e isso pelo fato dele estar morto, e como sabemos mortos não têm vontade, não querem ou deixam de querer.
Lembrando que a morte de que Paulo fala em Efésios 2 é uma morte espiritual, que atingiu a raça humana por causa do pecado do nosso primeiro pai, Adão (Gn 2.16-17; 3.8). Por causa de sua terrível transgressão a vontade de Deus, Adão trouxe sobre si e toda a raça humana a qual representava, terrível castigo, que é o horror da depravação total (morte espiritual). Tornando tanto Adão como sua descendência escravos do pecado, e inimigos de Deus (Jo 8.34; Cl 1.21), isso, claro, antes de Cristo.
E neste estado todo o humano nasce:
1- Em total rebelião contra Deus, de tal modo que não existe nele nem amor e nem prazer pela santidade, não há nele temor a Deus... (2Tm 3.4; Rm 3.18).
2- Totalmente inclinado para o pecado, de modo que tudo o que o homem faz é pecado, mesmo seus atos que vão de acordo a lei moral de Deus são inteiramente pecado, pois são feitos sem fé e tudo que não provém de fé, que não flui de um coração que ama e teme a Deus é pecado (Rm 3.9-18; Rm 14. 23).
3- Totalmente incapaz de se libertar do pecado (Jo 8.34).
4- Culpado pelo pecado e por isso merecedor de condenação (Rm 3.23; Is 1.28; Sl 92.7).
O único meio pelo qual o homem natural pode se ver livre da condenação vindoura é pela obra redentora realizada por Deus Pai através do seu Filho Jesus Cristo. Somente por Cristo, e em Cristo, pecadores depravados podem se achegar ao Deus Santíssimo, sem serem consumidos por sua santa ira contra o pecado (At 4.12; Rm 1.18; 3. 23-26).
Por: Edvaldo Neto – membro da Igreja Presbiteriana de Angola; seminarista do Seminário Teológico Presbiteriano “Rev. Neves Mussaqui”.
RECOMENDAÇÃO DE LEITURA SOBRE O ASSUNTO:
1 - DABNEY, R. L. Os Cinco Ponto do Calvinismo. The pilgrim, 2019.
2 - PIPER, Jonh. Os Cinco Pontos do Calvinismo. SP: Fiel, 2010.

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