Começo por dizer que estamos diante da face principal do cristianismo. Martinho Lutero, a figura mais imponente da primeira geração da Reforma, foi bastante enfática em sua exclamação de que a Justificação era “o primeiro e o principal artigo da teologia cristã”. Seu companheiro de Wittenberg, Philip Melanchthon, não foi menos insistente que esse era “o tema mais importante do ensinamento cristão”.
Quando me refiro que a Justificação somente pela fé é a face principal do cristianismo, levo em conta que essa é uma das doutrinas principais que nos distingue de outras religiões, inclusive dos católicos. Qualquer que fossem as diferenças entre cristianismo puro e outras religiões, seu lugar de desentendimento estaria ocupado pelo tema da justificação pela somente fé no quadro geral.
A doutrina da justificação pela somente fé é resposta à graça de Deus. É uma doutrina que foi perdida e encontrada uma e outra vez em toda a história da igreja. Ela não é uma inversão dos reformadores protestantes. Sempre foi a mensagem central do Antigo Testamento e da igreja primitiva e a mensagem central da Reforma Protestante, sob a liderança piedosa de homens como Martinho Lutero e João Calvino. Ainda hoje é a mensagem central de toda igreja que é fiel à Palavra de Deus. Somente quando a igreja compreende e proclama a justificação pela fé, pode ela realmente apresentar o evangelho de Jesus Cristo. Como João Calvino, inquestionavelmente a figura mais influente da segunda geração da reforma, falou igual da justificação como “O ponto principal sobre o qual a religião se sustém”. Da mesma forma, foi na tradição reformada que a primeira clara enunciação da justificação, como “o artigo sobre o qual a Igreja permanece em pé ou cai”, foi evidenciado.
Uma das passagens mais significativas que ensina que a verdade sobre a Justificação pela somente fé está em Romanos 3.25b-28. Paulo, o apóstolo, depois de colocar toda humanidade na balança de Deus, chega a uma conclusão: "Portanto, concluímos que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Rm 3:28).
Vamos juntos refletir um pouco sobre essa preciosa doutrina, com as seguintes questões: O que é justificação pela fé? Por que somente pela fé e não pelas obras?
Começo por responder a primeira questão:
1. Nenhuma resposta seria tão clara como essa: “Justificação é um ato da livre graça de Deus, no qual ele perdoa todos os nossos pecados, e nos aceita como justos diante de dele, somente por causa da justiça de Cristo a nós imputada, e recebida só pela fé.” (Breve Catecismo de Westminster, Resposta à Pergunta 33)
2. Pela fé somente e não pelas obras.
* Em primeiro lugar: A salvação pertence ao Senhor (Jn 2.9). Ele mesmo estabeleceu meio pela qual dá a salvação aos homens, e este meio é a fé. Neste caso, a justificação é concedida pela graça, e recebida pela fé.
* Em segundo lugar: As exigências requeridas para nos salvarmos, por pecarmos contra Deus, é o cumprimento total da lei; somos incapazes de satisfazer por meio das obras, somente Jesus cumpriu plenamente a Lei, e derramou seu sangue em favor de homens pecadores. Então, pela obediência de Cristo muitos são constituídos como justos, pois todas as demandas da Lei foram satisfeitas por Ele (Rm 3:23; 5:19).
* Em terceiro lugar: Deus estabeleceu a salvação por meio da fé para que ninguém se glorie, "Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:9). Nenhuma pessoa pode merecer a salvação mediante o bom comportamento ou a “observância da Lei”. (Rm 3.20,28). Portanto, ninguém pode se orgulhar da salvação como se houvesse conquistado uma medalha de honra ao mérito ou sido aprovado em um exame. Salvação é obra de Deus e toda glória desta obra pertence a Ele, somente a Ele.
Infelizmente, porém, vivemos em uma época em extremo semelhante à de Martinho Lutero. As trevas da ignorância espiritual têm invadido de tal modo as mentes dos homens que vasto número de pessoas vivem na mais objeta ignorância desse ensinamento cêntrico da fé cristã, dessa doutrina cardeal da Bíblia.
Parafraseando Martinho Lutero, a justificação é “O sumário da doutrina cristã”. Ela não pode ser retirada do ensino cristão. Hoje vimos negligência a respeito desse pilar crucial da fé cristã. As canções e pregações ultimamente estão cheias de princípios narcisistas e egolatrias. Precisamos voltar à graça de Cristo que vem por meio da fé somente (e não das obras), “O sol que ilumina a santa igreja de Deus”. A doutrina da justificação é o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. É nela que a plena e completa misericórdia e graça de Deus atingem seu ponto máximo no ato de Deus tornar justo o pecador.
Por: Pascoal Mapaxi - membro da Igreja Batista Reformada de Angola (IBRA); bacharelando em Direito na Universidade Gregório Semedo, e Ciência Política na Universidade Agostinho Neto.
RECOMENDAÇÃO DE LEITURA:
1- MAIA, Hermisten. Fundamentos da Teologia Reformada. SP: Mundo Cristão, 2007.
2- KENNEDY, D. James. Verdades que Transformam. SP: Fiel, 2012.

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